Sobre médicos e Medicina

 

 

“Ser Médico & Ser Humano” Dr. Décio Iandoli Jr. Ed FE Editora Jornalística  SP, 2009

 

Um livro pequeno,111 paginas, de leitura fácil,que fala da difícil arte de se relacionar com o individuo doente e sua família. É dessa relação que surgem as possibilidades terapêuticas, o conforto e a qualidade de vida possível, caso a caso. Muito feliz, transparente e de muita sensibilidade, a narrativa do autor nos coloca frente a frente com o médico como sujeito de uma relação que, estabelecida com base na humanidade e capacidade de doação do profissional de saúde, além da necessária competência, claro, cumprirá o ideal médico, integralmente: confortar e aliviar o sofrimento de quem já não pode ser curado; cuidar do doente e reverter a doença tratável, mas acima de tudo, ensinar e ajudar o individuo a se manter saudável!

 

Trechos do livro:

“…relação médico-paciente… uma relação humana extremamente importante, geralmente intensa e muitas vezes conflituosa – pois se estabelece em momentos de crise, nos moldes de relações comerciais destituídas de uma característica fundamental,ou seja, o amor ao próximo,a confiança, o respeito mútuo e principalmente a priorização da vida e da saúde, que não são, absolutamente, mercadorias.”

“… parece-me que o lado sobre o qual mais precisa ser meditado é o do médico, já que se modificarmos a sua formação profissional, imprimindo um cunho humanístico e espiritual, determinaremos uma diminuição das distorções que observamos no cotidiano e que evidenciam o despreparo total para enfrentarmos a própria morte e, conseqüentemente, o despreparo par orientar a morte do outro.”

“A relação mercantilista que rege a área da saúde, hoje, promove uma visão distorcida do paciente consumidor, do paciente como fonte de renda ou, ainda, o que é bem pior, do paciente como um “inimigo.”

“… o paciente deveria ver o médico como alguém que pode e quer ajudá-lo, e não como um simples “prestador de serviços.”

“Tanto a onipotência médica quanto a “entrega” por parte do paciente são sentimentos que não devem existir na relação médico-paciente, pois a cura depende do paciente.”

 

Um artigo escrito por outro médico, Dr.Neuci Cunha Gonçalves,sob título “Ética e Bondade no Ato terapêutico”, postado (na íntegra) em http:://www.arzt.com.br/DetalhesArtigos.aspx?cid=9&AID=23 expressa muito bem o desejo da maioria de nós, médicos, de ajudar a fazer uma Medicina de maior qualidade e afinada com o desejo do indivíduo que, já fragilizado pela doença nos procura. Aliviar a sua dor física e emocional e seus medos além de sermos interlocutores eficazes na relação deles com seus familiares nos momentos críticos de suas vidas. Ele, Dr. Neucir fala:

“Cada médico há que fazer uma constante auto-crítica de sua prática terapêutica… e não nos esqueçamos nunca que a premissa maior para que a prática médica seja de boa qualidade é que o ato terapêutico esteja, antes e acima de tudo, alicerçado na ética e na bondade.”

Espero estar contribuindo para resgatar o ideal e a figura do médico ao levar ao conhecimento do público leigo o pensamento (endossado pela prática) de alguns profissionais brasileiros que vivem a Medicina que todos gostaríamos de ver difundida. Aquela que aproxima o médico do doente, irmãos em humanidade, unidos na dor e no medo, caminhando juntos, lado a lado, no enfrentamento de suas mazelas.

Como eles, autores conhecidos de alguns, existem milhares de outros médicos, anonimos em sua virtude no exercicio dessa Medicina possível. Que eles possam se sentir gratificados e plenos,sempre e que continuem a enaltecer essa que é uma das mais antigas profissões. E seguramente uma das que dão ao individuo que nela labuta a oportunidade de sentir intimamente a alegria da doação ao outro.

Poder ver a recuperação de um enfermo e a gratidão expressa no seu olhar, na sua atitude, não tem preço. Assim como o amor de mãe é incondicional, a valorização da vida e do bem estar do individuo doente é paixão incondicinal do médico que ama o que faz.

 

 

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