As “várias medicinas” podem se ajudar com estratégias complementares, não excludentes.
O conhecimento sobre saúde é muito mais amplo do que se admite e tem sido sub-utilizado pela Medicina Convencional.
Não sou contra o desenvolvimento científico. Obviamente, reconheço os benefícios da tecnologia e dos avanços em diagnóstico e tratamento dos dias atuais. Apenas penso que estamos voltados tão somente para um ângulo da questão. Se a ênfase fosse preventiva, se investíssemos mais na saúde e não na doença, a longevidade com certeza estaria acompanhada de mais qualidade de vida. Mas hoje o cenário ainda é outro.
Por que não implementar mais estratégias de promoção de saúde e de prevenção de doenças? Por que não conduzir mais pesquisas cruzando os dados epidemiológicos e estatísticos com os antropométricos e outras características familiares e individuais, hábitos alimentares e estilos de vida? Sem dúvida agregaria mais valor, mas penso que muito já se disse (e se diz) a respeito.
Um grande divisor de águas nesse sentido foi o trabalho do Dr. Dean Ornish cardiologista americano do Preventive Medicine Institute e da University of California, autor de vários livros que relacionam a mudança de estilo de vida à alteração da expressão genética, contrariando o que sempre se disse: “os genes são os principais determinantes da saúde e não são modificáveis”. Ele ensina que “… intervenções simples, baratas e de baixa tecnologia…” mudam o seu estilo de vida e isso pode mudar seus genes, sim! Podemos nos antecipar à doença, evitá-la, modificar seu curso ou reverter prognósticos negativos. Já temos este conhecimento.
Falta bom senso, iniciativa popular e vontade política. É verdade que falta investimento maior em educação para a saúde, estimulando o interesse da população. Mas falta também interesse do médico e de outros profissionais da área de saúde. Eles deveriam ser os vetores da disseminação desta “nova” forma de entender a saúde e combater a doença.
Nós médicos ainda não percebemos que o caminho que temos percorrido é equivocado. Que a intervalos curtos, cada vez mais curtos, tudo fica obsoleto, mudamos conceitos, drogas e estratégias rápido demais para percebermos, mais tarde, que não houve ganho importante. A abordagem continua errada.
Não devemos apenas continuar buscando drogas milagrosas para resolver as doenças, investindo para isso todo tempo e dinheiro. Deveríamos ser capazes de nos antecipar aos eventos, identificando possíveis causas e estratégias para fazer frente a eles. Ou pelo menos, como se faz em economia, dividir para multiplicar, ou seja, invéstir nessas várias frentes para resultados mais eficientes a longo prazo.
Cada caso é sempre um caso diferente. A experiência adquirida no exercício da profissão, num aprendizado contínuo, se traduz em assertividade cada vez maior em relação aos diagnósticos feitos. E a capacidade de discernimento de cada médico deve ajudá-lo a decidir em função dos sinais e sintomas e principalmente do organismo que está doente, levando em consideração as suscetibilidades individuais e, porque não, as crenças de cada um a respeito de saúde.
Hipócrates (e outros médicos antes dele) defendiam uma medicina voltada para a saúde, no sentido de ajudar o organismo na sua constante busca da homeostasia ou equilíbrio interno. Equilíbrio este que seria conseguido à custa de reajustes nos processos bioquímicos mantenedores do funcionamento ideal dos órgãos e sistemas do corpo humano. Nosso organismo está capacitado a retomar a normalidade funcional através desses ajustes diuturnamente levados a termo. Cabe à terapêutica médica auxiliar esse processo quando o corpo esgota as suas próprias possibilidades.
Lembro ainda que quando falo em agir conforme a medicina complementar não significa substituir a terapêutica convencional onde e quando ela não pode nem deve ser substituída.
Quando você está gripado, toma apenas vitamina C, um descongestionante e vai pra cama? Ou toma também um chá quente (de preferência de equinácea ou similar, quando não existe contra-indicação para este fitoterápico), opta por não se alimentar com muito carboidrato simples (açúcar e doces que, além de você, os vírus também adoram!) e prefere sopas de legumes ou a canja da mamãe (hum… delicia!) além de fazer gargarejos com água morna, sal e limão ou romã?…
São estratégias complementares e não excludentes que podem acelerar o processo de cura, devolvendo mais rapidamente o bem estar ao doente. Então porque não usar?
E já que falei da equinácea (fitoterápico que estimula a imunidade), aproveito para lembrar que ela deve ser evitada em indivíduos portadores de doença auto-imune. Nestas pessoas, o fitoterápico pode induzir uma piora rápida da doença. E pensando bem, se a equinacea é capaz de acelerar a doença causada por excesso de imunidade (característica da doença auto-imune) como podemos negar suas propriedades imunoestimulantes? Porque ela ainda é desconhecida da maioria de nós, médicos ortodoxos?
Pensemos a respeito!